Escrever impede a conjugação dos outros verbos. Os dedos sobre o teclado e lá fora a vida estourando, não só em desgraças mas também em dádivas de toda espécie.
Escrever o quê, se não me concedem tempo para isto entre dois eventos que desabam como bombas - já redigi o capítulo „Alemanha“, e para o próximo, „Brasília“, falta inspiração e coragem?
Sempre tive muito medo de criar um texto tão melodramático e sentimental que fosse capaz de me constranger. Hoje, no entanto, não tenho coragem de tratar de assuntos menos importantes para o meu coração.
Por isso é que hoje escrevo sobre o impacto que a morte de uma bola emplumada de meio quilo pode provocar.
Ele infelizmente não viveu o ocaso de uma vida longa e cheia de acontecimentos.
Era um papagaio comum, que recheou o meu cotidiano com birra, ternura e ataques de ciúmes. Dele recebi, inesperadamente, a acolhida mais calorosa no meu retorno ao Brasil. A sensação de perda teve uma intensidade totalmente imprevista.
O que mais dói é não ter tido tempo de tê-lo ensinado a dizer „Ich liebe dich, Schatzi.“