segunda-feira, novembro 20, 2006

"Se não temos aptidão para fazer amigos, remodelemo-nos até consegui-la. A solidão só vale como remédio, como jejum - não constitui alimento; o caráter, como Goethe o viu com tanta clareza, só se forma no tumulto da vida. Se nos tornamos excessivamente introspectivos, estamos na senda da perdição, ainda que o nosso negócio seja a psicologia; olhar com persistência excessiva para dentro de nós mesmos é provocar o desastre do jogador de tênis que conscientemente mede a distância, os ângulos e a força dos golpes, ou como o pianista que pensa nos dedos. Os amigos são necessários, não só porque nos ouvem, como porque se riem para nós; através dos amigos conseguimos um pouco de objetividade, um pouco de modéstia, um pouco de cortesia; com eles também aprendemos as regras da vida, tornando-nos melhores jogadores dos jogos que a compõem.

Se queres ser amado, sê modesto; se queres ser admirado, sê orgulhoso; se queres as duas coisas, usa externamente a modéstia e internamente o orgulho. Mas o próprio orgulho pode ser modesto, raramente se deixando ver, e nunca se deixando ouvir.

Não revelar muita agudeza: os epigramas tornam-se odiosos quando farpeiam fundo a carne; e adotar como lema o De vivis nil nisi bonum. Nunca provar que um homem está errado; ele não o perdoará nunca. O ‘nada fazer’ é uma das coisas mais preciosas do mundo; frequentemente vale muito o nada fazer, e é sempre uma boa coisa o nada dizer. Ninguém deve mostrar-se ansioso de proclamar a verdade. Aceitando as convenções que a sociedade estabelece, gozamos um pouco de liberdade dentro das suas leis; isso nos permitirá tudo, se o fizermos com elegância e não o andarmos a proclamar."

Will Durant, in "Filosofia da Vida"
"Quando já se viveu por muito tempo numa civilização específica e com frequência se tentou descobrir quais foram as suas origens e ao longo de que caminho ela se desenvolveu, fica-se às vezes tentado a voltar o olhar para outra direção e indagar qual o destino que a espera e quais as transformações que está fadada a experimentar. Logo, porém, se descobre que, desde o início, o valor de uma indagação desse tipo é diminuído por diversos fatores, sobretudo pelo fato de apenas poucas pessoas poderem abranger a atividade humana em toda a sua amplitude. A maioria das pessoas foi obrigada a restringir-se a somente um ou a alguns dos seus campos. Entretanto, quanto menos um homem conhece a respeito do passado e do presente, mais inseguro terá de mostrar-se o seu juízo sobre o futuro. E há ainda uma outra dificuldade: a de que precisamente num juízo desse tipo as expectativas subjetivas do indivíduo desempenham um papel difícil de avaliar, mostrando ser dependentes de fatores puramente pessoais de sua própria experiência, do maior ou menor otimismo da sua atitude para com a vida, tal como lhe foi ditada pelo seu temperamento ou pelo seu sucesso ou fracasso. Finalmente, faz-se sentir o fato curioso de que, em geral, as pessoas experimentam o seu presente de forma ingénua, por assim dizer, sem serem capazes de fazer uma estimativa sobre o seu conteúdo; têm primeiro de se colocar a uma certa distância dele: isto é, o presente tem de se tornar o passado para que possa produzir pontos de observação a partir dos quais elas julguem o futuro."

Sigmund Freud, in "O Futuro de uma Ilusão"
"A imposição de padrões pelas sociedades aos seus extremamente diversificados indivíduos tem variado muito em diferentes períodos históricos e diferentes níveis de cultura. Nas culturas mais primitivas, onde as sociedades eram pequenas e ligadas a tradições muito estreitas, a pressão para o conformismo era naturalmente muito intensa. Quem ler literatura de antropologia ficará espantado com a natureza fantástica de algumas das tradições às quais os homens tiveram de se adaptar. A vantagem de uma sociedade grande e complexa como a nossa é permitir à variedade de seres humanos expressar-se de muitas maneiras; não precisa de haver uma adaptação intensa, como a que encontramos em pequenas sociedades primitivas. Mesmo assim, em toda a sociedade há sempre um impulso para a conformidade, imposto de fora pela lei e pela tradição, e que os indivíduos impõem sobre si mesmos, tentando imitar o que a sociedade considera o tipo ideal.

A esse respeito, recomendo um livro muito importante do filósofo francês Jules de Gaultier, publicado há cerca de cinquenta anos, chamado 'Bovarismo'. O nome vem da heroína do romance de Gustave Flaubert, Madame Bovary, no qual essa jovem mulher infeliz sempre tentava ser o que não era. Gaultier generaliza isso e diz que todos temos tendência a tentar ser o que não somos, a querer ser o que a sociedade na qual crescemos julga desejável. Ele diz que todo mundo tem um 'ângulo bovarístico', e que o de algumas pessoas é bastante estreito; aquilo que elas são intrinsecamente, pela hereditariedade, não difere muito do que tentam fazer de si mesmas pela imitação. Mas algumas pessoas têm ângulos bovarísticos de noventa graus, outras até de cento e oitenta, e tentam ser exatamente o oposto daquilo que são por natureza. Os resultados são em geral desastrosos."

Aldous Huxley, in "A Situação Humana"

segunda-feira, novembro 13, 2006

"Basta desta inutilidade de voto branco ou voto nulo. O país deve adotar imediatamente o voto CONTRA: a verdadeira e simples revolução democrática."

Millôr Fernandes

sexta-feira, novembro 10, 2006

A Bienal - Edson Aran

A Bienal de Artes de São Paulo costumava ser bem metida a besta. Todo ano tinha um artista de vanguarda querendo reinventar a roda ou pelo menos enfiá-la num banquinho de madeira. Virou outra coisa. A de 2006 tem mais jeito de Feira de Acari Indoor, 25 de Março Emparedada, Camelódromo Encarcerado. Um troço horrendo desses.

Bem no meio do prédio tem uma bolha inflável de plástico. Ao lado dela, dezenas de outros bolhas, todos oriundos do Terceiro Mundo, deitam falação sobre assunto que não tem picas a ver com arte. Tudo escrito bem grande em cartolina. “Abajo la globalización hija de puta e el imperialismo del carajo!”, “Arriba, trabajadores catarrientos de Cochabamba!”, “Hay gobierno? Quiero patrocínio!” Dá vontade de chamar o autor num canto e resolver a coisa no braço ali mesmo.

Pintura? Escultura? Tem não, moço. Passa outra hora. É tudo instalação. É tudo cartolina. Tudo feito por gente que jamais conheceu as benesses da civilização e do Chicken McNuggets.

terça-feira, novembro 07, 2006

"Não notaste que, quando olhamos o olho de alguém que está diante de nós, nosso rosto se torna visível nele, num espelho, naquilo que é a melhor parte do olho e a que chamamos pupila, refletindo, assim, a imagem de quem olha?"

Sócrates