sexta-feira, agosto 24, 2007

Ah, ter alguém que gostasse de mim, que me consolasse e me impedisse de pensar!

"A verdadeira desvantagem do casamento é que nos despoja do egoísmo. E as pessoas que não são egoístas são absolutamente desinteressantes. Falta-lhes individualidade. Contudo, há certos temperamentos que se tornam mais complexos com o casamento. Mantêm o egotismo e acrescentam-lhe muitos outros egos. São obrigados a ter mais que uma vida. Tornam-se mais eficientes na sua disciplina, e uma organização eficiente é, segundo creio, o objectivo da existência do homem."

Oscar Wilde, in "O Retrato de Dorian Gray"


"Devia haver uma idade para o divórcio como há para o casamento. As desilusões domésticas têm o seu tempo para se transformarem em cicatrizes que vão desaparecendo com o passar dos anos. Por isso é que nos velhos casais há uma recordação da vida em comum que se assemelha à santidade. Contam peripécias leves e dão ao passado um colorido quase caricato pela força do distanciamento em que se encontram. A verdade é que sofreram os mesmos desenganos e turbulências que os jovens arrumam e põem de lado sem dar tempo a transformarem-nos em recalques."

Agustina Bessa-Luís, in "Antes do Degelo"


Mil Perdões - Chico Buarque

Te perdôo
Por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz

Te perdôo
Por pedires perdão
Por me amares demais
Te perdôo
Te perdôo por ligares
Pra todos os lugares
De onde eu vim

Te perdôo
Por ergueres a mão
Por bateres em mim
Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)

Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair


quarta-feira, agosto 08, 2007

Quando eu estava no Brasil, sempre sonhava em viver outra vida em outro lugar que não fosse o meu. Essa brincadeira me levou para um exílio longínquo e praticamente eterno. Quando volto ao Brasil, já não reconheço minha própria casa. Evito rostos conhecidos nas ruas de São Paulo, tento a todo custo negar as evidências de que o tempo passa e de que no fundo eu não fui a lugar algum – fiquei ali mesmo onde sempre estive, sonhando em ir embora e temendo ficar, indo pela metade mas fugindo totalmente.

Doí notar como o Sergio Chapelin envelheceu e está com o rosto cheio de rugas. Sinto uma profunda nostalgia ao ver que mudaram as embalagens do Sonho de Valsa e inventaram pizzas cujos nomes eu não entendo. Recentemente, perdi algumas horas de reflexão tentando entender a febre daquele refrigerante da Pepsi, o H2O.

Não consigo mais voltar, nem posso mais ficar longe. Estou cansada de querer muito e repudiar muito ao mesmo tempo. Acho que nunca superarei o trauma de ter passado mais de dois anos fora do Brasil – lugar com o qual sonho todos os dias, mas onde já não posso mais viver.

Quando estou no Brasil e faço um comentário negativo a respeito do país, muitos dos meus amigos se ofendem, mesmo quando percebo que concordariam com a minha crítica se eu ainda vivesse lá. O que eu digo soa aos seus ouvidos como uma espécie de esnobismo, como se no fundo eu atribuísse a mim mesma uma certa superioridade só porque não moro mais no Brasil. É como se eu estivesse falando mal de um país que não me pertence mais, xingando uma mãe que deixou de ser minha quando fui embora de casa.

Quem quiser pode se ofender à vontade. Mas não deve jamais se esquecer de que estou falando a respeito de mim mesma, e de que todos esses comentários negativos não passam de autocrítica. Estranho é que assim que piso em solo alemão tudo isso passa. Ouço emocionada os pagodes que habitualmente execrava. Sinto saudade da minha mãe, do terminal Jabaquara e do Fórum João Mendes, tenho uma vontade irressistível de comer o bolinho de bacalhau do Itamaraty e de beber o chopp do Pirajá.

Aliás, confesso que só penso naquilo. E aquilo é picanha, arroz com feijão, frango assado, esfiha, pastel de feira, macarronada, coxinha, pizza de frango com catupiry, palmito. Já escrevi a respeito e não quero testar a paciência dos meus três ou quatro leitores, mas... foi realmente um desperdício divino ter dado boca para os alemães. Bastaria um buraco para enfiar comida diretamente no estômago. Eles simplesmente não têm paladar. É como se lhes faltasse um software para apreciar a boa comida.

Enfim, dizem que o Tom Jobim, que morava em Nova York, ia para o Rio de Janeiro e dizia: “Nova York é uma maravilha mas é uma merda. O Rio é uma merda mas é uma maravilha.”

terça-feira, agosto 07, 2007

"Mein Schwiegervater hat eine typische Eigenschaft der Entwurzelten, also derer, die nicht wirklich dort zu Hause sind, wo sie wohnen, und auch nicht richtig da hingehören, wo sie herkommen. Wenn er in Deutschland ist, gibt es für ihn nichts Schöneres als Italien, das Land seiner Vorfahren und des Weins und so weiter. Alles ist dann in Italien besser. Das Wetter sowieso, aber auch die Menschen, die dort so fröhlich und gastfreundlich sind und immer einen Scherz auf den Lippen haben und überhaupt so kinderlieb und noch dazu ausgezeichnete Köche sind. Dazu die Landschaft und der Duft und die schönen Frauen allüberall und eben das diamantene Meer. Diese folkloristischen Hymnen gipfeln jedes Mal im Absingen neapolitanischer Volksweisen. Fast hat man aus seinen Schilderungen den Eindruck, als sei Italien eine Art riesiges Schlumpfhausen.

Deutschland hingegen ist natürlich mies, kalt und grau. Die Menschen sind nur an Geld interessierte Vorteilsnehmer, die niemandem etwas gönnen, Kinder am liebsten immer einsperren und nie, nie lachen. Und dann das Essen, immer diese Knödel und Kartoffeln, dieser Schweinefraß. Oh, und wenn er nur könnte und nicht diesen riesigen Druck von wegen Karriere und so hätte, dann würde er zurückkehren in das Land von Dante und Machiavelli. Er würde über Weinberge schauen, dichten und immerzu polenta essen.

»Dann kehr doch«, knurre ich immer in Gedanken. Zwar bin ich wirklich kein Patriot, und es gibt ganz bestimmt schönere Länder als das, aus dem ich komme. Aber dieses Gemecker kann einem schon ganz schön auf den biscotto gehen.

Erfreulicherweise wendet sich das Bild just in der Sekunde, in der Antonio italienischen Boden betritt. Gegenüber seinen Cousins und Cousinen tritt er stets als Botschafter der deutschen Kultur im Allgemeinen und des deutschen Sports, der deutschen Politik, des deutschen Sozialwesens, der deutschen Automobilindustrie und der deutschen Küche im Besonderen auf. Letztere hat nämlich einiges mehr zu bieten als immer nur gegrilltes Fleisch, Tomaten und Nudeln. Was man beispielsweise aus Kartoffeln machen könne, sei schier unglaublich. Die Deutschen seien große Erfinder und deutsche Autos »Beste von Besten in de Kunst von de Ingenieure«. Nicht umsonst fahre er einen Mercedes und dazu gebe es nicht nur nichts Vergleichbares in Italien, sondern nirgendwo in der Welt. Wenn er dies sagt, beugt er sich nach vorne, hält kurz inne, wobei seine Augen besonders hell leuchten, und er zeigt alle seine funkelnden Zähne. Dann geht’s weiter. Vor allem die Disziplin der Deutschen sei bewundernswert. »Wie habbe die auffegebaut der Land aus rauchende Trümmer« ist eines seiner Großthemen und dass die Deutschen alles andere als dumm seien, auch wenn man mit ihnen im Ausland immer Spott treibe. Was seien beispielsweise Dante und Verdi gegen die deutschen Großgeister Goethe und Mozart. Nichts, Staub. Meinen Einwurf, Mozart sei Österreicher, lässt er nicht gelten. »Lauda annegeblich auch iste Österreicher, aber tritt immer auf in deutsche Fernsehen, also für mich iste auch Deutscher.« Außerdem sei Mozart ja überhaupt erst in Deutschland groß rausgekommen, ob ich das eigentlich wisse. Nein, natürlich nicht. Und wenn das Kolosseum nicht in Rom stünde, sondern beispielsweise in München, so würde dort heute noch der FC Bayern München spielen, weil es dann nämlich immer noch tadellos in Schuss wäre."

Jan Weiler, in "Maria, ihm schmeckt´s nicht! Geschichten von meiner italienischen Sippe"