segunda-feira, outubro 17, 2005

A Alemanha e a condição feminina


É à frente de um país que até hoje cultua a figura da mulher como guardiã de valores morais conservadores que Angela Merkel corre o risco de se perder. É chumbo de todos os lados. O tiro mais deselegante veio meses atrás, pegando a então ainda candidata totalmente desprevenida, partido da charmosa esposa-celebridade do então ainda chanceler Gerhard Schroeder, Doris Schroeder : "A biografia de Merkel não representa a experiência da maioria das mulheres alemãs, que se preocupam em conciliar família com emprego, vivem o dilema de como melhor educar os filhos e precisam decidir se ficam em casa alguns anos após o nascimento das crianças", apontou a sra. Schroeder, referindo-se ao fato de Angela Merkel não ser mãe e tocar sua vida privada à margem da família idealizada. Ou seja, para os padrões alemães, a nova chefe de governo é praticamente uma herege.


A própria referência à decisão de ficar ou não em casa "alguns anos após o nascimento dos filhos" já espanta. Em qual outro país ainda se contempla essa possibilidade? A questão ilustra o papel que a maternidade - e por extensão a feminilidade - exerce sobre a sociedade alemã até hoje. Na língua alemã existe até mesmo uma palavra para designar a mãe desalmada que vai trabalhar em vez de ficar em casa cuidando dos filhos: Rabenmutter. Primeiro mundo, quase 2006 e nada muito diferente do terceiro Reich de Adolf Hitler, quando as mulheres tinham a obrigação de ficar em casa para nutrir e educar a próxima geração.

domingo, outubro 16, 2005

"Nos antigamentes, dom Verídico semeou casas e gentes em volta do botequim El Resorte, para que o botequim não se sentisse sozinho. Este causo aconteceu, dizem por aí, no povoado por ele nascido.

E dizem por aí que ali havia um tesouro, escondido na casa de um velhinho todo mequetrefe.

Uma vez por mês, o velhinho, que estava nas últimas, se levantava da cama e ia receber a pensão.

Aproveitando a ausência, alguns ladrões, vindos de Montevidéu, invadiram a casa.

Os ladrões buscaram e buscaram o tesouro em cada canto. A única coisa que encontraram foi um baú de madeira, coberto de trapos, num canto do porão. O tremendo cadeado que o defendia resistiu, invicto, ao ataque das gazuas.

E assim, levaram o baú. Quando finalmente conseguiram abri-lo, já longe dali, descobriram que o baú estava cheio de cartas. Eram as cartas de amor que o velhinho tinha recebido ao longo de sua vida.

Os ladrões iam queimar as cartas. Discutiram. Finalmente, decidiram devolvê-las. Uma por uma. Uma por semana.

Desde então, ao meio-dia de cada segunda-feira, o velhinho se sentava no alto da colina. E lá esperava que aparecesse o carteiro no caminho. Mal via o cavalo, gordo de alforjes, entre as árvores, o velhinho desandava a correr. O carteiro, que já sabia, trazia sua carta nas mãos.

E até Sâo Pedro escutava as batidas daquele coração enlouquecido de alegria por receber palavras de mulher."

Eduardo Galeano

sábado, outubro 15, 2005

"Wir haben nur die Wahl zwischen unerträglichen Wahrheiten und heilsamen Mogeleien."

Emile M. Cioran

quinta-feira, outubro 13, 2005

"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar para atravessar o rio da vida. Ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem número, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio, mas isso te custaria a tua própria pessoa: tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Aonde leva? Não perguntes, siga-o!"

"Daquilo que sabes conhecer e medir, é preciso que te despeças, pelo menos por um tempo. Somente depois de teres deixado a cidade, verás a que altura suas torres se elevam acima das casas."


Nietzsche, "by Samuca"
Em entrevista à revista Época, Oscar Niemeyer tece considerações sobre a vida, a política, a arquitetura e aconselha o presidente Lula a seguir os passos de Hugo Chavez. Arrã... então tá. O Albert Speer tropical só não fala que ele e seu parceiro, Lucio Costa, são os responsáveis pelo Brasil ser a bosta que é. Projetaram uma cidade que não passa de uma maquete vitaminada, cheia de prédios que parecem agências bancárias. Do jeito que foi desenhada, Brasília está destinada a só produzir negociatas e idéias de jerico.

Oscar Niemeyer tem, pelas minhas contas, uns 217 anos. Tomara que viva até os 500 para ver Brasília abandonada e coberta de mato. Sim, eu sou otimista e acho que um dia o bom senso prevalecerá. Vai ser um pouco antes dos macacos dominarem a Terra.