segunda-feira, maio 08, 2006

"Uma pessoa envelhece lentamente: primeiro envelhece o seu gosto pela vida e pelas pessoas, sabe, pouco a pouco torna-se tudo tão real, conhece o sginificado das coisas, tudo se repete tão terrível e fastidiosamente. Isso também é velhice. Quando já sabe que um corpo não é mais que um corpo. E um homem, coitado, não é mais que um homem, um ser mortal, faça o que fizer... Depois envelhece o seu corpo; nem tudo ao mesmo tempo, não, primeiro envelhecem os olhos, ou as pernas, o estômago, ou o coração. Uma pessoa envelhece assim, por partes. A seguir, de repente, começa a envelhecer a alma: porque por mais enfraquecido e decrépito que seja o corpo, a alma ainda está repleta de desejos e de recordações, busca e deleita-se, deseja o prazer. E quando acaba esse desejo de prazer, nada mais resta que as recordações, ou a vaidade; e então é que se envelhece de verdade, fatal e definitivamente. Um dia você acorda e esfrega os olhos: já não sabe porque acordou. O que o dia te traz, você já conhece com exatidão: a Primavera ou o Inverno, os cenários habituais, o tempo, a ordem da vida. Não pode acontecer nada de inesperado: não te surpreeende nem o imprevisto, nem o invulgar ou o horrível, porque todas as probabilidades já são conhecidas, você já tem tudo calculado, já não espera nada, nem o bem, nem o mal... e isso é precisamente a velhice."

Sándor Márai, in "As Velas Ardem Até ao Fim"

quarta-feira, maio 03, 2006

"Para que percorres inutilmente o céu inteiro à procura da tua estrela? Põe-na lá."

Vergílio Ferreira