quinta-feira, dezembro 21, 2006

Resolução de ano-novo ou pequeno manifesto comunista

Meu desejo para 2007: quero ser impermeável. Chega de sofrer por desprezo imerecido ou críticas desconstrutivas. Quero ter coragem suficiente para me afastar de pessoas fúteis e superficiais, de visão estreita, de sentimentos insignificantes e pouco intensos, de opiniões perversas. Não quero mais conferir tanto valor ao julgamento delas – mesmo que tenham sido, em um passado não tão remoto, minhas grandes amigas.

Quero conhecer gente socialmente frágil, que admite sua própria insegurança. Versager aller Länder, vereinigt euch!

P.S.: Desde quando um “fracasso profissional” funciona como indicação significativa do caráter de uma pessoa? É correto pressupor que a sociedade é essencialmente justa na distribuição de suas recompensas? É razoável dar conotação moral a algo tão acidentalmente distribuído como o dinheiro?

quarta-feira, dezembro 20, 2006

A eloqüência da linguagem jurídica no Brasil é com certeza resultado da preocupação de fazer literatura a muque. Aqui é completamente diferente: os alemães são absolutamente diretos. Na grande maioria dos escritórios de advocacia em que eu trabalhei, quase todo mundo pensava que uma petição de juntada é arrevezamento, ginástica verbal, ilusionismo imaginoso, hipérbole sublime. E exatamente por isso escrevia-se muito mais do que o saudavelmente necessário. Não se dizia coisa alguma. Às vezes eu tinha a impressão de que o objetivo era banalizar a língua portuguesa, colocando-a ao alcance de qualquer cartorário desinteressado.

Não me tornei uma mestre em retórica, mas sou capaz de dizer as maiores bobagens com uma ênfase surpreendente.
Preciso voltar às ruas do centro. Meu avô sabia de cor o nome e a ordem de todas as ruas desde a Senador Feijó até lá pelos lados da Barão de Limeira.

Faz um pouco mais de um ano que meu avô morreu, mas há memórias dele tão vivas em mim que às vezes é como se apenas estivéssemos morando muito longe um do outro e as condições de comunicação fossem precárias. Mais do que tudo, sinto falta de sua voz. Poucos eventos domésticos e familiares foram fotografados, inexiste um registro sonoro de sua vida. Arrependo-me: embora cultive em mim a lembrança dele, seria certamente recomendável confiá-la também a outros meios. Isso exige que periodicamente eu o recorde, com uma imprecisão que me incomoda.

Amar essas ruas sujas e estreitas, almoçar na Confeitaria Santa Tereza, apreciar o resultado da reforma da Catedral da Sé é o modo doce que minha memória encontra para reverenciá-lo, para fazê-lo quase vivo. Assim, aliás, era meu avô, um homem extremamente doce, que às vezes interrompia seus longos silêncios para cantar marchinhas de carnaval ou enunciar algum provérbio italiano que subitamente lhe vinha à cabeça.

Em alguns meses encontraremo-nos secretamente, quando eu me juntar à multidão que lota a estação Sé do metrô. A matriz do banco em que meu avô trabalhava na Rua XV de Novembro, o Largo São Francisco, o hotel Senador, o Tribunal de Justiça, a Livraria Vozes, marcos do secreto mapa dos meus afetos, eu mesma refeita em pedra.
"Penso que sob o ponto de vista estritamente filosófico, na medida em que duvido da existência de objetos materiais e que ponho a hipótese de que o mundo pode ter apenas cinco minutes de existência, me devo considerar um agnóstico; mas sou, na prática, um ateu. Não considero a existência de um Deus cristão mais provável que a existência dos deuses do Olimpo ou a de Walhalla. Para dar outro exemplo: ninguém pode provar que entre a Terra e Marte não anda um bule de porcelana a descrever uma órbita elíptica, mas ninguém considera a hipótese suficientemente provável para a encarar a sério. Penso que o Deus dos cristãos é igualmente improvável."

Bertrand Russel
Preguiça

"Não paga a pena trabalhar."
Monteiro Lobato, in 'Urupês'


"Por que os brasileiros deveriam ter vergonha de ficar numa rede, com uma bela mulher, refletindo sobre o gozo da vida?"
Roberto da Matta


"Se o homem pudesse encontrar-se numa situação em que, embora se mantivesse ocioso, sentiria ser útil e cumprir com o seu dever, reencontraria uma das condições da felicidade original. Pois toda uma classe, a classe militar, goza dessa ociosidade que lhe é imposta e não pode ser censurada. Nessa ociosidade irrepreensível e obrigatória é que tem sempre residido e residirá sempre o atrativo principal da vida militar."
Leon Tolstoi, in 'Guerra e Paz'


"O que não se faz em dia de Santa Luzia, faz-se noutro qualquer dia."
Provérbio português


"Aquilo que se adia, não se perde."
Provérbio italiano
Frases de Dezembro

"O ano passou num abrir e fechar de olhos."

"Você reparou quanta gente conhecida morreu este ano? E todas quando a gente menos esperava!"

"Eu espero que o ano que vem seja um pouquinho melhor."

"Pois eu, minha filha, não tenho do que reclamar. O Júnior passou de ano"

"Vocês já viram quanto está custando um peru?"

"Minha filha, nós não vamos fazer nada. Mas, se você quiser aparecer lá em casa, com as crianças, só nos dará prazer."

"Eu tenho horror a datas... se não fossem as crianças..."

"Mãe, o Bruno falou que Papai Noel é o pai da gente."

"Deixa passar esse negócio de Natal e Ano-Novo, que eu vou estudar uma maneira de ir pagando devagarzinho."

"Bom, o regime eu só vou começar depois do ano."

"Eu quero ver se, de janeiro em diante, paro de fumar e de beber."

"Eu já avisei a todo mundo, que não quero nada, porque não tenho para dar a ninguém."

"Minha filha, eu e as crianças estando com saúde, não preciso de mais nada."

"Você acha que, com as coisas como estão, este Governo agüenta até o fim do ano?"