domingo, outubro 31, 2004

Conviver é uma arte tão sutil quanto o seu estimado teatro e a sua pretensa literatura.

O que você faz é sempre seu direito fazer (ninguém é obrigado a agir da maneira que considero correta). A dor provocada pela decepção é legítima, evidentemente. Mas também é uma Sentença com trânsito em julgado. A Ilusão foi destruída e eu agora sou livre.

Para isso, no entanto, você provocou sensações muito familiares e doloridas, realmente insuportáveis. Nunca vou perdoá-lo.

Lamento somente não ter me afastado primeiro. Porque assim eu prantearia apenas a sua ausência, e não o fato de ter te conhecido.

Ich bin nicht mehr eine Blinde, die glaube was sie sieht. Oder eine Taube, die glaube was sie hört. Viele Danke für deine Hilfe.
"Um forte egoísmo é uma proteção eficaz contra a enfermidade. No limite, contudo, é preciso amar para evitar a doença. Podemos adoecer se, em consequência de uma frustração, não conseguirmos amar."

Sigmund Freud
Ainda existem mulheres que querem ser amadas e protegidas. Não existem mais, contudo, homens capazes de escolhê-las, renunciando ao hipotético prazer proporcionado por todas as outras.

São mulheres frágeis por definição (fundamento único de todo comportamento despótico). Essa fragilidade aparente disfarça a agressividade contida - insensatamente ignorada pelo resto da humanidade.

Existe alguém que saiba conversar a respeito das emoções indizíveis? Aquelas que pressupõem atitudes irracionais e gestos imaturos?

sexta-feira, outubro 29, 2004

Contribuição de um amigo muito, muito querido.

She's Electric - Oasis

She’s electric
She’s in a family full of eccentrics
She’s done things I’ve never expected
And I need more time
She’s got a sister
And God only knows how I’ve missed her
And on the palm of her hand is a blister
And I need more time
And I want you to know
I’ve got my mind
But I need more time
And I want you to say
Do you know what I’m saying
But I need more ’cuz I’ll be you and you’ll be me
There’s lots and lots for us to see
Lots and lots for us to do
She is electric
Can I be electric too?
She’s got a brother (a brother)
We don’t get on with one another
But I quite fancy her mother
And I think that she likes me
She’s got a cousin (a cousin)
In fact she’s got a dozen (a dozen)
She’s got one in the oven (oven)
But it’s nothing to do with me
And I want you to know
I’ve got my mind made up now
But I need more time
And I want you to say
Do you know what I’m saying
But I need more ’cuz I’ll be you and you’ll be me
There’s lots and lots for us to see
There’s lots and lots for us to do
She is electric
Can I be electric too?
Can I be electric too?

quarta-feira, outubro 27, 2004

Tolerância Zero. A partir de agora comunico tudo o que me incomoda e não perdôo falta de comprometimento. Ontem percebi que ajustes são extremamente perigosos para as pessoas instáveis. Não nego que elas realmente tenham o direito de desapontar os outros com sua instabilidade; é necessário, no entanto, que noticiem essa decisão.

Sei que exigir dos outros a mesma rigidez e inflexibilidade que exijo de mim mesma é improdutivo. De qualquer maneira, também possuo as minhas prerrogativas. Uma delas é discutir quaisquer contratempos - e se possível esclarecê-los - diretamente com as pessoas envolvidas. Outra é afastar-me imediatamente dessas criaturas, caso recusem-se a tanto.
Para os fãs da Maria Rita.

Não Vale A Pena

Que é uma pena
Mas você não vale a pena
Não vale uma fisgada dessa dor
Não cabe como rima de um poema
De tão pequeno
Mas vai e vem e envenena
E me condena ao rancor
De repente, cai o nível
E eu me sinto uma imbecil
Repetindo, repetindo, repetindo
Como num disco riscado
O velho texto batido
Dos amantes mal-amados
Dos amores mal-vividos
E o terror de ser deixada
Cutucando, relembrando, reabrindo
A mesma velha ferida
E é pra não ter recaída
Que não me deixo esquecer

terça-feira, outubro 26, 2004

Pass auf dich auf!

Estava apaixonada. Despedida dentro do carro, entre um monte de beijos. No alto dos meus 18 anos, eu realmente acreditava que o meu acompanhante já era um homem.

Depois do último beijo, abri a porta do carro e, antes de sair, ouvi a fatídica frase, dita de maneira grave e sedutora: "te cuida."

Vou me cuidar, pode deixar. Para estar inteira amanhã de novo e nunca mais olhar na sua cara. Cuidarei do meu humor, do meu resfriado, de te esquecer. Cuidarei de mim mesma, já que ainda não encontrei ninguém disposto a tanto. É minha responsabilidade não ficar triste, não deixar ninguém me magoar, não deixar que nada de ruim me aconteça, não esmorecer. Não é mesmo?
“O amor é uma canção antiga: e eu me sinto péssimo cantor. Mas as verdades não envelhecem e são sempre e por toda parte verdadeiras, quer pregadas no deserto, quer cantadas num poema, quer impressas nas páginas de um jornal.”

Herman Hesse

domingo, outubro 24, 2004

Desencontro Marcado

É, não vem,
não vou.
Deixa pra lá,
depois se vê.
Você queima
e eu não ponho
a mão no fogo por você.

Aldir Blanc
Deixa o olhar do mundo

Deixa que o olhar do mundo enfim devasse
Teu grande amor que é teu maior segredo!
Que terias perdido, se, mais cedo,
Todo o afeto que sentes se mostrasse?

Basta de enganos! Mostra-me sem medo
Aos homens, afrontando-os face a face:
Quero que os homens todos, quando eu passe
Invejosos, apontem-me com o dedo.

Olha: não posso mais! Ando tão cheio
Deste amor, que minh'alma se consome
De te exaltar aos olhos do universo...

Ouço em tudo teu nome, em tudo leio:
E, fatigado de calar teu nome,
Quase o revelo no final de um verso.

Olavo Bilac

sexta-feira, outubro 22, 2004

Loiro, bonito, alto, inteligente, engraçado.
Gosta de conversar comigo, de ir ao cinema, de músicas que se tornam as minhas prediletas. Gosta de viajar, de ler, de escrever e de interpretar a vida de um jeito que se torna, aos poucos, o meu também.

(...)

Não tem aquele jeito de pegar de quem me conhece como ninguém, mas ao mesmo tempo acabou de ser apresentado. De quem sabe que é permitido, mas quer fugir da polícia e se esconder dentro de mim.
Não tem romance.
Não me deixa cansada, com preguiça de olhar para o resto do mundo.

(...)

Sobrou angústia.
Um perfume diferente, um jeito de olhar contido, uma idéia inteligente.

Ele já pertence a um caminho que passa longe do seu. Pertence à espécie dos seres idealizados e distantes.

Nada mais sugestivo do que a improbabilidade. Você pode inventá-lo, ele é todo seu. Pode colocar cenas completas, com o fundo musical e as palavras certas, desfechos há tanto tempo esperados.

Ele é singular. A sua única chance para ser feliz. Ele não te ama, e você acaba de perder a sua última oportunidade. Trancou as outras milhares de possibilidades de felicidade.

Antes de querer o inconquistável: masoquismo ou medo?
Isso minha filha, continua. Insista em relacionamentos falidos, telefone para babacas e abra as pernas para vários deles.

Baixinho e fala francês. O tempo todo, para mostrar que é culto. Assim só confirma o quanto um pouco mais de masculinidade lhe faria bem. Usa um chinelo estranho. Garoto perdido e metido a artista.

Por alguns minutos - tão rápidos quanto seu desempenho sexual e tão enganadores quanto o seu fôlego - pensei que ele fosse bacana.
Antes que o amor acabe

Tenho soltado risos nervosos por aí. Um “por aí” bem perto dos seus ouvidos.
Para você ver o quanto eu posso ser charmosa.
Escova no cabelo todo dia, lápis, batom e perfume (eu não consigo cumprir o que prometo quando lanço olhares de mulher).
A verdade nunca é necessária, mas... sinceramente, esse texto não é para você.
Porque você não mereceu: não me agarrou no corredor, não falou no meu ouvido o quanto queria me comer exatamente naquele instante.
Por tantas vezes eu te olhei e rezei em silêncio: por favor seja ele, seja o homem que perde um segundo de ar quando me vê. Que será o pai dos meus filhos e não de mais algumas das minhas neuroses.
Anestesia

É terminantemente proibido ser ridícula. Nada de lágrimas no congestionamento, nem um segundo de olhar perdido no horizonte, chega de escutar Maria Bethânia.

Muita maquiagem, para esconder o medo de não ser o que você me fez acreditar que eu era. Muita roupa da Zara para esconder a falta de leveza e de certeza.

Para não sentir dor, vou berrar ao último ouvido do meu universo o quanto você é descartável.

Para não sofrer, nunca mais colocarei minha cabeça no travesseiro antes do cansaço profundo e sem reflexões de doze horas ininterruptas no escritório. Nada de ler ou escutar: talvez eu me lembre de você ao sentir a beleza de alguma coisa.

A amargura é muito mais simples que a esperança.
Porquinho-da-Índia

Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas . . .

— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

Manuel Bandeira

quarta-feira, outubro 20, 2004

"O tempo passou. O tempo é remédio para tudo. O tempo nos faz esquecer. Há pessoas que esquecem depressa. Outras apenas fingem que já não se lembram mais."
Érico Verissimo
Eu saí sem dizer nada. Tive medo de ouvir um não, mesmo vindo de um homem a quem eu mal conhecia. Tive medo de ser categórica, medo de assumir a responsabilidade por uma opção – e a minha escolha estava tão clara. Eu queria revelar alguma coisa a meu respeito, mas você não estava interessado.

Não sei por quê insisto em te escrever. As minhas frases têm conteúdo criptografado, e eu estou certa de que, se fossem lidas por olhos amorosos, não seriam somente lidas, mas sussurradas dentro do seu ouvido, meu leitor.

O amor é simples, meu caro, e necessita de apenas três aditivos: correspondência, desejo físico e felicidade. Se alguém retribui seu sentimento, se o sexo é vigoroso e se ambos se sentem felizes na companhia um do outro, nada mais deveria importar. Por nada, entenda-se: não deveria importar se o outro sente atração por outras pessoas, se o outro gosta de fazer algumas coisas sozinho, se o outro tem preferências diferentes das suas, se o outro é mais moço ou mais velho, bonito ou feio, se vive em outro país ou no mesmo apartamento e quantas vezes telefona por dia. Tempo, pensamento, fantasia, libido e energia são solteiros e morrerão assim, mesmo contra nossa vontade. Não podemos lutar contra a independência das coisas. Alianças de ouro e demais rituais, na realidade, não nos casam. O amor é e sempre será autônomo.

Fácil de escrever, bonito de imaginar, porém dificilmente realizável. Amor se captura, se domestica e se guarda em casa. Às vezes forçamos sua estada e quase sempre entregamos a ele os direitos autorais de nossa existência.

E quem vai me salvar do passar do tempo, desse tempo que você reputa indispensável? Talvez os que não pensam, ou quem sabe os adeptos da filosofia carpe diem; mas mesmo essas pessoas sabem que já viveram momentos parecidos com os atuais e muito melhores, e que estes instantes nunca mais vão se repetir - não tão bons - por culpa do tempo.

Reflita sobre o poder do tempo, sobre o quanto ele comanda nossa vida; ele é precioso e não se deve perder um só minuto com aborrecimentos sem razão - ou mesmo cheios de razão. Por quê eu não tive alguém que tivesse entendido o que é a vida muito cedo, que me pegasse aos 13, 15, 19 ou 25 anos, me sacudisse pelos ombros e dissesse "pare de achar que tem problemas, aproveite cada minuto de sua vida, não perca tempo sendo complicada, neurótica, reclamando que sua mãe não te ama e que seu pai é um egoísta que não te dá a devida atenção. Danem-se seu pai e sua mãe, seja feliz, aproveite, aproveite."? Você teve um interlocutor. Portanto, aproveite. É seu dever.
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa
E a gente vai ficanto pra trás
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando o aumento
Desde o ano passado
Para o mês que vem

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval
E a sorte grande do bilhete pela federal
Todo mês
Esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando o aumento
Para o mês que vem
Esperando a festa
Esperando a sorte
E a mulher de Pedro
Está esperando um filho
Pra esperar também

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã, parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem
De quem não tem vintém
Pedro pedreiro esta esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo
Espera alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar
Mas pra que sonhar
Se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás
Quer ser pedreiro pobre e nada mais
Sem ficar esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando o aumento para o mês que vem
Esperando um filho pra esperar também,
Esperando a festa
Esperando a sorte
Esperando a morte
Esperando o norte
Esperando o dia de esperar ninguém
Esperando enfim nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita
Do apito do trem

Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem, que já vem, que já vem...

segunda-feira, outubro 18, 2004

"Lídia, ao amanhecer, sentada no gramado de um parque e ao lado de Pontano, tira uma carta de sua bolsa e lê: 'Esta manhã você ainda dormia quando acordei. Pouco a pouco, saindo do sono, eu senti sua leve respiração. E através dos fios de seus cabelos que escondiam seu rosto, vi seus olhos fechados. E uma sensação me saía pela garganta. Tive vontade de gritar, acordar você, porque seu sono parecia demasiadamente profundo e mortal. Na penumbra, a pele do seu corpo era viva, tão quente e doce que desejei soprá-la com meus lábios, mas tive medo de perturbar seu sono e, ter você de novo acordada em meus braços me atormentava. Preferia você assim, como uma coisa que ninguém poderia tirar de mim, porque ninguém poderia possuir. Uma imagem sua para sempre. Em seu rosto, vi algo de mais puro e profundo, mostrando-me uma dimensão em que pude compreender todo o tempo da minha vida. Todos os anos futuros, bem como aqueles antes de te conhecer, mas em que já me preparava para encontrá-la. Esse era o pequeno milagre de um despertar: sentir pela primeira vez que você me pertencia não apenas naquele momento, e que a noite se prolongava para sempre, ao seu lado, ao lado do seu sangue, dos seus pensamentos, da sua vontade que se confundia com a minha. Num instante percebi o quanto amava você Lídia, e foi uma sensação tão intensa que meus olhos encheram-se de lágrimas. Era porque pensava que isso não deveria acabar nunca. Que toda nossa vida fosse para mim como o despertar dessa manhã. Sentir você não minha, mas sobretudo uma parte de mim, uma coisa que respira comigo, e que ninguém poderia destruir senão o torpor da indiferença de um hábito, que vejo como a única ameaça. E depois você acordou, e sorrindo ainda beijou-me e senti que não devia temer nada. Que nós estaríamos sempre como naquele momento. Unidos por algo mais forte do que o tempo e o hábito.' Pontano: - De quem é essa carta? Lídia: - É sua."

Michelangelo Antonioni - A Noite

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.

Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.

Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.

Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.

Mário de Andrade
“Estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que me aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não a saber como viver, vivi uma outra? A isso quereria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização anterior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi – na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro.”

Clarice Lispector
SUGESTÃO

Sede assim - qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre
sem pergunta.

Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.

Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.

Também como este ar da noite:
sussurrante de silêncios
cheio de nascimentos e de pétalas.

Igual à pedra detida
sustentando seu demorado destino
e à nuvem, leve e bela
vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em música
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens.


Cecília Meireles

sábado, outubro 16, 2004

“Devemos respeitar a religião de nossos semelhantes, mas somente no sentido e no grau em que respeitamos sua teoria de que sua esposa é bonita e suas crianças inteligentes.”

H. L. Mencken

quinta-feira, outubro 14, 2004

Poesia Romena...

"A língua não é o verbo que recrias.
A única língua, tua de verdade,
dona de escuridão e claridade
é a que conheces e em que silencias."

Lucian Blaga


"Não há nada a se admirar nas pirâmides, a não ser o fato de tantos homens terem se degradado para construir uma enorme tomba, quando teria sido mais viril e sábio ter simplesmente se afogado no Nilo. (...) As pessoas são patriotas, mas não tem respeito próprio, e sacrificam o maior pelo menor. Amam o solo no qual constroem seus túmulos, mas não têm simpatia alguma pelo espírito que anima sua argila. O patriotismo é o verme de suas cabeças. (...) Enquanto muitos se preocupam com os majestosos monumentos do passado, eu gostaria de saber quem, naqueles dias, não os construiu. Quem estava acima dessas pequenezas."

Thoreau


Bom dia meu amor? Boa noite? Muito obrigada? Pára com isso. Por que você não vem me amansar?
Rasga o meu vestido. Tira essa cor inventada da minha boca. Faça ela ficar cheia de sangue vivo, entreaberta entre um grito e um riso.
Tira esse meu andar leve e ereto, me entorta, me coloca do jeito que você gosta.
Eu vou latir no seu ouvido se você achar que tem o poder de me magoar.
Para que conquistar a minha cabeça se você pode dominar o mundo pequeno e errado que eu inventei?
Olho você e fico querendo correr de quatro até sua canela e morder toda essa sua lógica. Querendo te enfiar dentro de mim para deixar de ser incompleta.

terça-feira, outubro 12, 2004

"De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo, fazer da queda um passo de dança; do medo, uma escada, do sonho, uma ponte, da procura, um encontro."

Fernando Sabino (1923 - 2004) - O Encontro Marcado

terça-feira, outubro 05, 2004

Eu que andava nessa escuridão
De repente foi me acontecer
Me roubou ao sono e a solidão
Me mostrou o que eu temia ver
Sem pedir licenças nem perdão
Veio louca pra me enlouquecer
Vou dormir querendo despertar
Pra depois de novo conviver
Com essa luz que veio me habitar
Com esse fogo que me faz arder
Me dá medo e vem me encorajar
Fatalmente me fará sofrer

"A Dona da História. " Nós, definitivamente, somos a soma das nossas decisões. O destino tem pouco ou nada a ver com isso. Não existe opção sem perda.

Há momentos na vida em que sinto tanto a sua falta que só consigo pensar em tirar você dos meus sonhos e te abraçar muito forte.

segunda-feira, outubro 04, 2004

“A liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.”
Clarice Lispector

"Não: devagar.
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.

Devagar...
Sim, devagar...
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar...
Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
Talvez a impressão dos momentos seja muito próxima...

Talvez isso tudo...
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar...
O que é que tem que ser devagar?
Se calhar é o universo...
A verdade manda Deus que se diga.
Mas ouviu alguém isso a Deus?"

Fernando Pessoa

Dona de mim, independente, articulada. Coloquei o mundo no bolso e segui em frente, firme, do alto do meu salto. Nunca demonstro desânimo ou fragilidade. Relacionamentos não são prioridade na minha vida: meus projetos pessoais são muito mais importantes e grandiosos do que a perspectiva de ter alguém para dividir as angústias cotidianas. Eu me basto.

Mentira.

No afã de repelir tudo o que significaria levar a vida da minha mãe - filhos, casa, cachorro, casamento - destruí uma parte imensa de mim mesma que eu não sabia existir: a necessidade intrínseca de dar e receber afeto, de aparentar fragilidade quando a vida é dura, de deitar no ombro do homem que amo e, por que não, de cuidar dele quando isso se faz necessário ou desejado. Substituí tudo por uma atitude defensiva e vigilante, pronta pra competir (e, invariavelmente, ganhar), defendendo a qualquer preço essa tal liberdade - que, neurótica e paradoxalmente, desejo seja eliminada o quanto antes.

Meu desejo inconfessável é poder ser meiga e terna, sem medo de que isso seja usado contra mim MAIS UMA VEZ. Será que você é capaz de me proteger de mim mesma? Tomara que sim.


sábado, outubro 02, 2004

Was es ist - Erich Fried

"Es ist Unsinn
sagt die Vernunft
Es ist was es ist
sagt die Liebe

Es ist Unglück
sagt die Berechnung
Es ist nichts als Schmerz
sagt die Angst
Es ist aussichtslos
sagt die Einsicht
Es ist was es ist
sagt die Liebe

Es ist lächerlich
sagt der Stolz
Es ist leichtsinnig
sagt die Vorsicht
Es ist unmöglich
sagt die Erfahrung
Es ist was es ist
sagt die Liebe."

Caranquejola

"Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores
!"

Mário de Sá carneiro


Não se engane. O Tempo envelhece as afeições violentas. A maioria das pessoas é estúpida e não consegue perceber isso: julga que ainda ama porque contraiu o hábito de amar. As criaturas inteligentes, porém, são privadas da possibilidade dessa ilusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem quando o sentem acabado se iludem, tomando por ele a estima, a ternura, o carinho, a amizade ou a gratidão que ele deixou. Você me assusta, me desvia. Tenho muito medo do amor que guardo para você. Para quê tanto empenho em incentivar alguém que já tem por peso e dor suficientes a própria vida?

"Eu quis amar mas tive medo. E quis salvar meu coração."

"Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é coisa que mais quero.
Por causa dele falo palavras como lanças.

Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é coisa que mais quero."

Adélia Prado


E de repente o Brasil voltou a ser a minha casa:

"Vai meu irmão
Pegue esse avião
Você tem razão de correr assim
Desse frio
mas beija
O meu Rio de Janeiro
Antes que um aventureiro lance mão
Pede perdão pela duração desta temporada
Mas não diga nada
Que me viu chorando
E pros da pesada
Diz que eu vou levando
Vê como é que anda
Aquela vida à toa
E se puder me manda
Uma notícia boa."