Trecho dedicado à visita de amanhã ao consulado geral do Brasil em Frankfurt. A malandragem só é lucrativa quando a honestidade é a regra geral. Por enquanto o número de exploráveis ainda é maior do que o número de exploradores: nosso frágil equilíbrio não está em perigo.
"Corria na Europa, durante o século XVII, a crença de que aquém do Equador não existe nenhum pecado. Como se a linha que divide o mundo em dois hemisférios também separasse a virtude do vício. É possível acompanhar ao longo da nossa história o predomínio constante das vontades particulares que encontram seu ambiente propício em círculos fechados e pouco acessíveis a uma ordenação impessoal. (...) Cada indivíduo afirma-se ante os seus semelhantes indiferente à lei geral, onde esta lei contrarie suas afinidades emotivas, e atento apenas ao que o distingue dos demais. A personalidade individual dificilmente suporta ser comandada por um sistema exigente e disciplinador. Sugiro nestas páginas o vinco secular que deixaram na psique nacional os desmandos da luxúria e da cobiça. Esses influxos desenvolveram-se no desenfreamento do mais anárquico e desordenado individualismo, desde a vida isolada e livre do colono que aqui aportava, até as lamúrias egoístas de poetas enamorados e infelizes. Ubi bene, ibi patria (onde se está bem, aí é a pátria), diz o nosso profundo indiferentismo pela vida comunitária. Explosões esporádicas de reação e entusiasmo apenas servem para acentuar a apatia quotidiana."
Paulo Padro, in "Retrato do Brasil"