A Alemanha e a condição feminina
É à frente de um país que até hoje cultua a figura da mulher como guardiã de valores morais conservadores que Angela Merkel corre o risco de se perder. É chumbo de todos os lados. O tiro mais deselegante veio meses atrás, pegando a então ainda candidata totalmente desprevenida, partido da charmosa esposa-celebridade do então ainda chanceler Gerhard Schroeder, Doris Schroeder : "A biografia de Merkel não representa a experiência da maioria das mulheres alemãs, que se preocupam em conciliar família com emprego, vivem o dilema de como melhor educar os filhos e precisam decidir se ficam em casa alguns anos após o nascimento das crianças", apontou a sra. Schroeder, referindo-se ao fato de Angela Merkel não ser mãe e tocar sua vida privada à margem da família idealizada. Ou seja, para os padrões alemães, a nova chefe de governo é praticamente uma herege.
A própria referência à decisão de ficar ou não em casa "alguns anos após o nascimento dos filhos" já espanta. Em qual outro país ainda se contempla essa possibilidade? A questão ilustra o papel que a maternidade - e por extensão a feminilidade - exerce sobre a sociedade alemã até hoje. Na língua alemã existe até mesmo uma palavra para designar a mãe desalmada que vai trabalhar em vez de ficar em casa cuidando dos filhos: Rabenmutter. Primeiro mundo, quase 2006 e nada muito diferente do terceiro Reich de Adolf Hitler, quando as mulheres tinham a obrigação de ficar em casa para nutrir e educar a próxima geração.