Relatividade
Vivemos a Era da Incerteza. Tudo "depende", "talvez", "pode ser". É hora de restaurar o rumo da História, reconhecendo a existência de verdades absolutas e irrefutáveis.
Não existe meio viado. Ninguém deixa de ser viado. Ninguém é "só um pouquinho" viado. Essa é uma das mais bem definidas verdades universais. Beijou um homem, se roçou com um igual ou pensou em fazer qualquer coisa parecida, é viado e pronto.
Todo mundo se arruma para ir à peça “Os sete afluentes do rio Ota”. Você também, afinal quer saber o que é isso. As outras pessoas fingem que gostam, enquanto você dorme. Elas entenderam a obra e você não. Ta vendo como as coisas seriam muito mais simples se as verdades fossem restabelecidas? Uma peça com seis horas de duração é necessariamente chata! Aliás, teatro é muito chato. Só vai ao teatro quem é ator, quem quer ser ator ou quem é amigo de ator.
É difícil conviver com a idéia de que existem coisas rígidas e imutáveis. É necessário, entretanto, derrubar a hipocrisia construída por alienados que desejam mascarar a verdade. O mundo é real. Não precisamos dessa infame sociedade alternativa.
O Intelectualóide
Aprendeu a ler com dois anos de idade, e seu primeiro livro foi "A Tartaruguinha Revisionista Contra o Coelho Arrivista." Consciente da importância dessa fase da vida, o bebê intelectual tem uma vivência altamente crítica. Passa rapidamente pela fase anal e supera o Complexo de Édipo com certa desenvoltura, mas encontra dificuldade na fase oral. Isto é, não consegue calar a boca pelo resto da vida.
Enquanto as outras crianças quebram tudo, jogam bola na vidraça, brincam de casinha ou de médico, o intelectual brinca de psicanalista, crítico de arte, porta-voz da presidência, sindicalista ou secretário-geral do PSTU.
Aos 13 anos, acontece um fato marcante na vida intelectual: ele ganha um óculos. Apesar das idéias liberais, a armação é das mais conservadoras.
Aos 14 anos, o jovem intelectual vai assistir à semana de cinema finlândes na Cinemateca do MAM. Em sua terceira leitura de "Ulisses", de James Joyce, o jovem intelectual escreve uma resenha para o jornal acadêmico, redigido por ele e lido pelo diretor da escola.
Aos 15 anos, rompe com a família e vai morar no banheiro.
A universidade é uma lembrança agradável na vida do intelectual. Ele prestou vestibular para Administração, mas cursou metade do curso de Letras, de Sociologia e de Filosofia. Seu sonho de verdade, no entanto, é ser diretor de cinema. Faz então o seu primeiro filme, com uma filmadora Panasonic emprestada. A partir daí se intitula cineasta e passa a falar mal do cinema nacional. Faz poesia alternativa. Seu pai edita e compra todos os exemplares de seu livro "Canto Só".
Aos 40 anos, o intelectual retorna à vida pública. É eleito secretário-geral, fundador, proprietário e culpado pelo Partido Socialista Comunista Dialético-Materialista Brasileiro.
Finalmente, aos 50 anos, compra uma sunga, entra pro PV, cheira pó, injeta cola e comete todo o Código Penal.