Eu saí sem dizer nada. Tive medo de ouvir um não, mesmo vindo de um homem a quem eu mal conhecia. Tive medo de ser categórica, medo de assumir a responsabilidade por uma opção – e a minha escolha estava tão clara. Eu queria revelar alguma coisa a meu respeito, mas você não estava interessado.
Não sei por quê insisto em te escrever. As minhas frases têm conteúdo criptografado, e eu estou certa de que, se fossem lidas por olhos amorosos, não seriam somente lidas, mas sussurradas dentro do seu ouvido, meu leitor.
O amor é simples, meu caro, e necessita de apenas três aditivos: correspondência, desejo físico e felicidade. Se alguém retribui seu sentimento, se o sexo é vigoroso e se ambos se sentem felizes na companhia um do outro, nada mais deveria importar. Por nada, entenda-se: não deveria importar se o outro sente atração por outras pessoas, se o outro gosta de fazer algumas coisas sozinho, se o outro tem preferências diferentes das suas, se o outro é mais moço ou mais velho, bonito ou feio, se vive em outro país ou no mesmo apartamento e quantas vezes telefona por dia. Tempo, pensamento, fantasia, libido e energia são solteiros e morrerão assim, mesmo contra nossa vontade. Não podemos lutar contra a independência das coisas. Alianças de ouro e demais rituais, na realidade, não nos casam. O amor é e sempre será autônomo.
Fácil de escrever, bonito de imaginar, porém dificilmente realizável. Amor se captura, se domestica e se guarda em casa. Às vezes forçamos sua estada e quase sempre entregamos a ele os direitos autorais de nossa existência.
E quem vai me salvar do passar do tempo, desse tempo que você reputa indispensável? Talvez os que não pensam, ou quem sabe os adeptos da filosofia carpe diem; mas mesmo essas pessoas sabem que já viveram momentos parecidos com os atuais e muito melhores, e que estes instantes nunca mais vão se repetir - não tão bons - por culpa do tempo.
Reflita sobre o poder do tempo, sobre o quanto ele comanda nossa vida; ele é precioso e não se deve perder um só minuto com aborrecimentos sem razão - ou mesmo cheios de razão. Por quê eu não tive alguém que tivesse entendido o que é a vida muito cedo, que me pegasse aos 13, 15, 19 ou 25 anos, me sacudisse pelos ombros e dissesse "pare de achar que tem problemas, aproveite cada minuto de sua vida, não perca tempo sendo complicada, neurótica, reclamando que sua mãe não te ama e que seu pai é um egoísta que não te dá a devida atenção. Danem-se seu pai e sua mãe, seja feliz, aproveite, aproveite."? Você teve um interlocutor. Portanto, aproveite. É seu dever.